estátua http://interfas.univ-tlse2.fr/reflexos/1458 Entrées d’index fr 0 José Saramago: a voz e os ecos http://interfas.univ-tlse2.fr/reflexos/1564 Nos Diálogos travados com Carlos Reis, José Saramago reconhece a grande influência que sobre ele exerceu a leitura de Raúl Brandão, principalmente a de Húmus, e assume também que os seus grandes mestres foram “os escritores do século XVII, António Vieira e Francisco Manuel de Melo”, principalmente o primeiro. A verdade, porém, como aliás o escritor afirma em outras ocasiões, é que não é possível descurar o enorme fascínio que sobre ele, ou sobre a sua obra, direta ou indiretamente exerceram autores como Luís de Camões, Almeida Garrett, Cesário Verde ou Fernando Pessoa e as suas várias pessoas. Se de Brandão lhe ficou o gosto pelas reflexões sobre a existência e a essência de Deus ou sobre a existência humana, e, por consequência, sobre “o que é isto de ser-se um ser humano”; se de Garrett reteve, entre outras influências, a prática digressiva, de António Vieira colheu um modo de escrever e uma forma de olhar e avaliar o mundo que dele fez, e faz, um humanista e um humanitarista. Na teia dos ecos que ouvimos na obra de Saramago, cabe ainda destacar o que de Luís de Camões, Cesário Verde e Fernando Pessoa percorre as tessituras narrativas de obras como O ano da morte de Ricardo Reis, por vezes em filigrana ideologicamente trabalhada, desse modo confirmando a assunção de Julia Kristeva de que todo o texto é “um cruzamento de palavras (de textos), onde lemos, no mínimo, um outro texto”. Dans les Dialogues avec Carlos Reis, José Saramago reconnaît la grande influence qu’a eue sur lui la lecture de Raúl Brandão, notamment Húmus, et admet également que ses grands maîtres ont été « les écrivains du XVIIe siècle António Vieira et Francisco Manuel de Melo », surtout le premier. La vérité, cependant, comme l’écrivain l’affirme ailleurs, c’est qu’on ne peut négliger l’énorme fascination que des auteurs comme Luís de Camões, Almeida Garrett, Cesário Verde ou Fernando Pessoa et ses différents hétéronymes ont exercée sur lui ou sur son œuvre, directe ou indirectement. S’il a hérité de Brandão le goût des réflexions sur l’existence et l’essence de Dieu ou sur l’existence humaine et, par conséquent, sur « ce que c’est qu’être un être humain » ; s’il a retenu de Garrett, parmi d’autres influences, la pratique de la digression, il a puisé chez António Vieira une manière d’écrire et une façon de regarder et d’évaluer le monde qui ont fait, et font encore, de lui un humaniste et un humanitariste. Dans le réseau d’échos qui retentissent dans l’œuvre de Saramago, les mots de Luís de Camões, Cesário Verde et Fernando Pessoa parcourent certaines œuvres comme L’année de la mort de Ricardo Reis, parfois en filigrane idéologiquement travaillé, confirmant ainsi l’hypothèse de Julia Kristeva selon laquelle tout texte est « un croisement de mots (de textes), où nous lisons, au moins, un autre texte ». In his Dialogues with Carlos Reis, José Saramago acknowledges the great influence of Raúl Brandão, especially of Húmus, and also admits that his great masters were “the 17th century writers António Vieira and Francisco Manuel de Melo”, especially the former. The truth, however, as the writer has stated on other occasions, is that it is not possible to ignore the enormous fascination that authors such as Luís de Camões, Almeida Garrett, Cesário Verde or Fernando Pessoa and his various heteronyms have directly or indirectly exercised over him or his work. If Brandão transmitted to him a taste for reflections on the existence and essence of God or on human existence and, consequently, on “what it is to be a human being”; if he retained from Garrett, among other influences, the digressive practice, from António Vieira he took a way of writing and a way of looking at and assessing the world that made, and still makes, him a humanist and a humanitarian. In the web of echoes that we hear in Saramago’s work, we should also point out that Luís de Camões, Cesário Verde and Fernando Pessoa’s words run through narratives such as The Year of the Death of Ricardo Reis, sometimes in an ideologically worked filigree, thus confirming Julia Kristeva’s assumption that every text is “a crossing of words (of texts), where we read, at least, another text”. ven., 21 avril 2023 10:28:38 +0200 ven., 21 avril 2023 10:28:38 +0200 http://interfas.univ-tlse2.fr/reflexos/1564